quinta-feira, 18 de abril de 2013
Lágrimas
Já podia ver as lágrimas no rosto dela, descendo devagar dos olhos claros. Apareciam como fantasmas, antecipando o fim. Transmitiam sentimentos que não desejava sentir ali. Tornavam mais densa a melancolia do ambiente. E desapareciam em seguida.
E já naquele momento, a despedida que ainda estava por vir mudou de sentido. Passou de um "até nunca mais" para "nos vemos em breve". Foram lágrimas que quebraram barreiras e o atingiram de tal forma, forçando-o a aceitar que havia perdido. A arriscar um futuro fadado ao fim. A crer na exceção.
E as noites. As noites que se tornariam tão solitárias e vazias, dando lugar às memórias felizes que o entristeciam por saber que não poderia mais tê-las no presente. Pensamentos não obedecem vontades. Agradeceu, porém, a capacidade sentimental que possuía; feliz por sentir-se vivo enquanto triste. Esqueceu dos princípios e deixou-se ter esperança. Um sentimento há tanto abandonado graças a uma escolha sábia. Mas o racional pode ser cansativo, e surge a vontade de arriscar.
Se deu conta de que nasceu como um colecionador de histórias. Percebeu que a única lógica que seguia era o rastro delas, pois mesmo os finais trágicos costumam pertencer a grandes histórias. Pessoas e lugares com algo a oferecer eram alimentos de um grande ego que só queria viver, sem se importar com resultados.
Então arriscou. Secou aquelas lágrimas e afastou os fantasmas que ele sabia que um dia voltariam. Ela abriu um sorriso tão real quanto aquela história seria. Um sorriso que ele se dedicaria a manter vivo.
Fez as memórias felizes voltarem, só porque era possível.
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