domingo, 24 de agosto de 2014

Drama




Pra onde foram os amores impossíveis, as esperas angustiantes, as saídas dramáticas? É estranho sentir saudades daquele leve sofrimento jovem. Ver o sol nascer sem perceber que a noite se perdeu entre cenários perfeitos, imaginados por um coração partido. E saber, então, que viriam muitas outras noites assim.

Pra onde foram os momentos constrangedores, os olhares carregados e as caminhadas solitárias? Tudo envolto em um desejo egocêntrico de poder produzir uma fotografia que representasse tantas emoções juntas. Que mostrasse a casa vazia, a música triste, o único lugar ocupado na mesa. Poderíamos ver as injustiças caídas sobre alguém que não tinha nada além de boas intenções.

A conquista morreu nas mãos daqueles que cansaram de procurá-la. Ela própria havia se cansado de esperar. Sumiram as decepções, os encontros, as palavras profundas. As lágrimas secaram e tudo ficou cada vez mais raso.

Talvez seja a idade. A falta de tempo para o drama. Ele vive somente nas músicas, nos filmes e nos livros, pois ninguém mais tem espaço para vivê-lo. As preocupações são outras, embora ninguém perceba que são infinitamente menos relevantes.

Talvez não. Talvez seja só a visão distorcida de um coração amargurado.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Alegrias impossíveis



Sei onde sua mente está. Sei onde ela tem passado os últimos dias, até meses. Anda vagando bem longe da sua casa, enquanto você decide se tenta trazê-la de volta ou não.

Seus pensamentos não deveriam estar tão longe. Sei o que os atraiu, e infelizmente não foi sem querer. Mas agora se sente confusa, pois as alegrias que sua mente busca estão fora de alcance. E se as pudesse ter, trariam tristezas. Você está presa num dilema bobo, causado por químicas conflitantes.

 Às vezes você fraqueja e desobedece a razão. Pega o telefone e disca os números proibidos. Depois do desabafo e das histórias antigas, vai dormir sentindo-se mais leve. Ao menos enquanto a consciência não pesar, quando sua mente voltar pra casa por um instante.

Mas ela logo viaja outra vez, sonhando com o que não pode ter.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Cinzas, copos e lembranças



Ela sentia falta do desajuste, das situações desconfortáveis, das desilusões. A aventura que era buscar alguém igualmente desajustado.

Já quase não sabia mais o que era sentir-se assim. Acomodou-se, feliz com o que tinha, mesmo querendo mais. Preferia os momentos às pessoas. Eram mais simples e quase não carregavam responsabilidades — características que se encaixavam perfeitamente à sua personalidade.

Mas depois de tantas alegrias e tristezas tristezas principalmente — espremidas em seus vinte e poucos anos, cansou de amar. Abusara do sentimento por toda sua vida, experimentara todas as suas formas e descobriu enfim que não era como queria viver. Ela desistiu do romantismo como quem se cansa de uma música.

Entregou-se ao quarto vazio, carregado de cinzas, copos pela metade e lembranças. Ao se deixar levar pelo folk melancólico que saía do celular jogado na cama, pôde finalmente voltar a sentir as idéias fluindo. Terminou desenhos que havia abandonado, retratando paixões do passado. Começou outros, que mostravam multidões de pessoas solitárias.

Os livros de ficção voltaram a alimentar suas madrugadas. Cada história era uma morte e um renascimento. Aliviavam o terror que era pensar no futuro. E quando não lia, pensava em fugir. Aquele lugar não servia mais, nem aquelas pessoas. 

Sua ambição era transcendental. O que desejava ser e fazer não cabia em seu pequeno corpo. Adoraria transformar todas as histórias que leu em uma só, e vivê-la.

E ninguém a impediria de tentar.