segunda-feira, 29 de junho de 2015

Vingt-neuf



Naquele momento, eu queria estar apaixonado e depressivo. Combinando a vista, o vento frio e um lento suicídio, parecia apropriado pensar em alguém que não dava a mínima pra este cenário. Às vezes acho até que fui feito pra isso. Mas eu não tinha em quem pensar.

Talvez tivesse.

Me identifiquei com o céu sem estrelas, pois me senti vazio ali. Não sentia nada, ou não sabia definir o que sentia. Poucas emoções me sobraram. Deixei-as nas pessoas que passaram, e em suas respectivas músicas. Parecia ter perdido a paciência para coisas bonitas.

Voltei pra casa ao som do vento e de tristezas alheias que combinavam com as minhas. Imaginava um dueto entre mim e o banco vazio ao meu lado, cantando as mesmas dores e alegrias.

Pelo resto da noite, me fiz responsável por cuidar da presença que ocupava aquele banco vazio. Poderia ter feito melhor, se soubesse o tamanho do arrependimento que viria depois. Fui enganado por sua devoção. Traído por minha vontade. Tive todas as chances do mundo e as desperdicei. Mais uma vez deixei o passado ficar no passado.

Mas não era onde ele pertencia.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Sem Escalas



As paredes sentem a minha dor. Por alguns segundos, ajudam a esquecer. Me escapam reflexos de frustração, como uma resposta aos erros que tanto demorei pra perceber. Tarde demais pra consertar.

Ando golpeando minhas ideias. Derrubei meus planos antes tão fixos com uma facilidade assustadora. Voar sozinho parecia possível. Parecia perfeito. Mas as lembranças atacaram violentamente, com duros golpes de realidade.

Todos precisam de um co-piloto.

Os dias estão longos demais. A espera me consome. Busco conforto nas músicas, tantas a dedicar. As que fiz não devem agradar tanto quanto as que fizeram. Depositei nelas, inocente, a esperança de que consertariam aqueles erros.

Era tarde demais. As notas caíram aos meus pés, como um espelho quebrado. Refletiam traços de angústia por uma certeza rompida. Eu não era mais aquele porto seguro. Nunca mereci o título. Fui uma ilusão, até para mim mesmo.

Mas vou me reconstruir e aguardar o seu retorno.