quarta-feira, 30 de julho de 2014
Não era amor
É engraçado quando perguntam algo já sabendo a resposta. No fundo, esperam uma resposta diferente, uma surpresa. Mas ela não vem. Somos todos previsíveis.
Por isso ele veste interrogações e a olha de longe, quando já está mais perto do que deveria. Foge das previsões, bate na porta das inspirações, mas ainda busca as palavras-chave para impressionar. Só que ela também veste interrogações, foge das suas palavras e o deixa desarmado.
O que lhe sobra são devaneios noturnos sobre os dias frios que se seguem. A história não é longa, então uma mesma frase se repete por várias horas de roteiro sem ação. A ação, por sua vez, quase não passa de uma série de olhares.
Mas são olhares que atingem a alma. Olhos que não se cansam do que vêem, nem de tentar atravessar as interrogações. E tampouco sabem quando parar, pois são correspondidos.
O olhar dela também o acompanha, embora ela negue para si mesma. Não entende totalmente o que vê, mas lhe faz bem. Anseia por sua presença, que carrega consigo uma calmaria de dias chuvosos e uma vontade de fugir.
Mas não há fuga de tal situação. Seu fim é incerto, mas previsível como nós. As versões criadas na imaginação não aconteceriam, pois seria trágico antes de ser bonito. E mesmo assim, seguiam se observando.
Não era amor que os ligava, mas era tão forte quanto.
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