terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O Leitor



Mergulhava em diversos outros mundos através de palavras impressas em páginas marcadas. Passou as tardes na varanda imerso em histórias envolventes, se sentindo parte delas, enquanto o céu desabava sobre a cidade lá fora. Em momentos como aquele se sentia feliz por encontrar tão fantástica rota de fuga das tempestades metafóricas. Sua personalidade era refletida e construída naqueles livros, naqueles personagens. Aquilo o alimentava, preenchia vazios causados pela abundância de realidade negativa ao seu redor, onde quer que fosse.

E onde quer que fosse, lia. Para esquecer, para lembrar, para viver vidas e histórias que não eram suas, mas eram melhores. Conheceu lugares fantásticos sem sair da sua boa e velha varanda, cuja janela recebia silenciosamente as gotas de chuva que provocavam o ambiente agradável de que tanto gostava. Acompanhado de café e biscoitos, saía de seu mundo triste para onde podia libertar a mente, o que causava sempre uma sensação revigorante ao lhe transmitir novos conhecimentos e muitas possibilidades.

Passava noites em claro em sua cama, iluminado apenas por uma pequena lanterna azul. Lia, madrugada adentro, versos reais ou fictícios de histórias que desejaria viver. O contraste entre tamanhas aventuras frente a sua rotina monótona era absurdo, e o ofuscava. Sonhava em um dia presenciar, ou até mesmo fazer parte de algo que pudesse contar com orgulho para os descendentes. Na verdade já havia conseguido antes, mas o final não foi nada feliz. Queria vencer, ao menos uma vez.

Mas não se deixaria abater. Os livros, em toda sua magia que provinha de algo tão simples e ao mesmo tempo tão poderoso, lhe davam uma ponta de esperança. E não se esforçava para que essa esperança crescesse, pois sabia que a decepção seria maior. Coisas boas nunca duram. Ainda assim, seguia em frente, guiado pelo anseio do conhecimento que o alcançava todos os dias. Sabia que seria útil no futuro, fosse amanhã ou daqui a vinte anos.

Tentou escrever suas próprias fantasias, mas desistiu cedo. Pretendia tentar mais tarde, quando acreditasse que havia amadurecido um pouco mais, e então seria capaz de encantar outros leitores. Leitores que, como ele, não queriam viver o mesmo mundo. Nunca estariam satisfeitos.

Mas ele, apesar de todos os esforços para escapar do seu mundo, nunca se esquecia de viver realmente.

2 comentários:

  1. +QD+ hein.

    Pior que é assim mesmo, ler a madrugada toda, com bolacha e café, ahaahha

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  2. Divino!
    É bem assim mesmo
    "[...] guiado pelo anseio do conhecimento [...]"
    Mais um blog pra minha lista!

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